Thursday, July 31, 2008

Olímpicos, óculos e direitos humanos

EDITORIAL

30 07 2008

Os Jogos Olímpicos sempre foram políticos. Nem podiam deixar de o ser, já que constituem um palco, iluminado pelos mais potentes holofotes, de onde tudo é transmitido em directo para o mundo inteiro. Um palco irresistível, utilizado ao longo da História: manipulado por Hitler, em Berlim (1936), ou por terroristas palestinianos (Munique, 1972), já foi também uma forma única de chamar a atenção para injustiças graves. Os dois atletas que, ao subirem ao pódio (México, 1968), cerraram o punho em nome do Black Power, conseguiram que toda a gente se perguntasse o que era isso do racismo.

No sentido em que a pressão da opinião pública é positiva, os Jogos podem funcionar como que uma forma de alterar realidades, que se prepetuariam caso se mantivessem escondidas. A escolha de Pequim, para os Olímpicos deste ano, foi encarada pelos mais optimistas como uma oportunidade de obrigar o regime a respeitar, um bocadinho que fosse, os direitos humanos naquele país.

O relatório da Amnistia Internacional veio, porém, alertar para o facto de estar a acontecer precisamente o contrário. Na altura da candidatura, a China jurou honrar «os valores da dignidade humana associados ao espírito olímpico». Activistas dos direitos humanos presos, jornalistas detidos, sites bloqueados, reeducação através de trabalhos forçados como uma forma de limpar a cidade e zonas adjacentes de gente indesejável são queixas que fazem parte da "Contagem Decrescente", nome dado a este documento da Amnistia. Roseann Rife, uma das directoras da organização, diz mesmo que: «Assistimos a uma deterioração dos direitos humanos por causa dos Jogos Olímpicos.»

A China, no entanto, recusou as acusações, alegando que «é preciso que a AI deixe de usar óculos desfocados» e insistindo que os Jogos não podem ser pretexto para se interferir «nos assuntos internos chineses».

A Amnistia empenha-se agora em pedir aos líderes mundiais que estarão em Pequim, que não são muitos, que usem a sua posição para denunciar a situação. Se Sócrates for, ficamos à espera de ouvir a sua voz.

Isabel Stilwell editorial@destak.pt

In
http://www.destak.pt/artigos.php?art=13308

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