Tuesday, November 4, 2008

Diálogo entre Pequim e Dalai Lama fracassou


"Fracasso."

Foi assim que o Dalai Lama qualificou ontem, em Tóquio, o resultado do diálogo com a China sobre a autonomia do Tibete. O líder espiritual tibetano, que já há dias se afirmara desiludido com a atitude de Pequim, adiantou que tenciona manter o silêncio até ao encontro especial com os tibetanos no exílio, agendado para a segunda quinzena deste mês.

"As coisas não estão a correr bem. Tenho de admitir o fracasso", disse o Dalai Lama em conferência de imprensa na capital nipónica. O líder tibetano, de 73 anos, adiantou que tenciona manter-se "completamente" neutral. "Se eu disser que prefiro esta [solução], isso pode tornar-se um obstáculo para que outras opiniões apareçam livremente."

O Dalai Lama aproveitou a ocasião para, mais uma vez, pedir aos tibetanos que estejam abertos a todas as opções, já que a exigência de uma maior autonomia acabou por ser rejeitada por Pequim, a mesma Pequim em que o líder religioso confia cada vez menos.

"A minha confiança no Governo chinês tornou-se cada vez mais frágil. A repressão no Tibete aumentou e eu não posso fingir que tudo está bem", disse o Prémio Nobel da Paz de 1989, que admitiu ainda um aumento de críticas por parte da própria comunidade tibetana, descontente pela ausência de resultados nas negociações com Pequim.

Na véspera, numa declaração aos jornalistas que o aguardavam à sua chegada a Tóquio, o Dalai Lama foi frontal ao denunciar a situação no terreno: "Os tibetanos são condenados à morte. Esta antiga nação e a sua herança cultural estão em vias de morrer."


No próximo dia 17, na cidade indiana de Dharamsala, todas as correntes tibetanas no exílio deverão reunir-se para debater a estratégia a seguir face à política chinesa no Tibete.

O Dalai Lama, que esteve recentemente internado num hospital de Nova Deli em Outubro e foi objecto de uma cirurgia para lhe serem retiradas pedras dos rins, foi inquirido sobre a eventualidade da sua reforma. O líder espiritual não iludiu a resposta. "Há pessoas que me dizem ser impossível o Dalai Lama reformar- -se. Respondo-lhes que a minha reforma é o meu direito como ser humano. E tenciono fazê-lo", garantiu. Mas o líder tibetano que partiu para o exílio em 1959, onde, desde então, mantém a luta política e religiosa pelo seu povo, acaba por explicar a razão pela qual se mantém no activo: gostaria de passar a autoridade para um governo local quando uma solução fosse alcançada, algo que se torna cada vez mais longínquo face à intransigência demonstrada pelos responsáveis chineses que não só recusam a independência do Tibete como também uma autonomia alargada.
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